Línguas

 

mesmo quando tudo era um sonho
antes mesmo de ser o amor
a gente já se encontrou

então, virada uma vida,
nossas vidas,
o notar do som
foi que me chamou

de dentro da sua bolha
observação e oração
uma esticadinha de vez em quando
e eu já entendia o seu não

aprendi com o seu silêncio
seu choro virou um trovão

e despertou para mim
um verdadeiro sim
e a transformação

uma prosa
cada respiração

aprendi esse idioma
e canto para colocar na cama
e me despertar disso
um susto, um doce, um riso

a gente se fala
mesmo sendo em gesto e tato
foram grandes revelações
no sofá da sala

o seu rosto só expressa
o meu lado bom
e quando você fez um ruído
babado, primitivo grito
silvos, silvas e almeidas

eu descobri que a maravilha
pode ser imitação
toda criação
poesia, faísca e pavio

do mais delicado ouvir
no mais largado, sorrio
são duas antenas
e há dois segundos

o meu e o seu

assemelho
somos espelhos diferentes
colocados frente a frente:
um reflexo do infinito

tudo diz
o encanto do assobio
o saudação do índio
os conselhos joelhos
as brincadeiras britadeiras

sua boca revela o mundo
descobertas das mais simples
às mais abertas
são sensações-janelas

nessa fase
sua língua fica de fora
não falamos a mesma ainda
mas, ah, como a gente se fala.

 

 

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